quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A aventura das grandes navegações


A aventura das grandes navegações Quando estudamos o desenvolvimento da expansão marítima, muitos leitores e curiosos se apegam à atrativa e empolgante ideia de que os homens que se envolviam em tal feito eram grandes heróis. Sem dúvida, a coragem de se lançar em águas desconhecidas não pode ser desconsiderada quando pensamos a respeito. Contudo, não podemos deixar de levar em conta que a vida nos navios era cercada por degradações e incômodos que retiram um pouco dessa impressão de grandiosidade.  Em Portugal, nação pioneira nesse processo, o rei era responsável direto pela escolha de um homem de confiança que pudesse organizar tão custosa viagem. Depois de saírem dos estaleiros, as embarcações eram colocadas à frente da Ribeira das Naus, em Lisboa, mesmo lugar onde, pela janela, o rei observava a movimentação dos navios a serem utilizados. Ao longo de cinco dias, estes ficavam estacionados para receberem as munições e víveres necessários para a viagem.  Feito o abastecimento, a embarcação saía navegando pelo rio Tejo para logo atingir as águas do “Mar Oceano”, termo que na época designava o Oceano Atlântico. Pouco antes da partida, em meio ao choro dos parentes que temiam nunca mais ver seus entes queridos, uma missa era realizada em favor da tripulação. Para indenizar os que assumiam tão arriscada aventura, o governo português oferecia uma recompensa financeira à sua família equivalente a um ano de trabalho.  Durante a viagem, um oficial ficava postado em uma cadeira alta fixada na proa ou na popa da embarcação. Dali ele teria que contrapor as informações de seus mapas com a cor da águas, que variava de acordo com a profundidade do oceano. Após uma análise, uma série de ordens era repassada ao timoneiro. Logo em seguida, no convés da embarcação, o mestre designava as tarefas a serem rapidamente executadas pela sua equipe de marinheiros.  Longe daquilo que se imagina, o capitão do navio era a pessoa que menos entendia das técnicas e expedientes que matinha o navio seguindo o seu roteiro de forma estável. Na maioria dos casos, ele era um nobre que representava a autoridade do rei na embarcação. Dessa forma, o capitão era quem exercia a função estritamente política de intermediar os conflitos entre os tripulantes e dar a palavra final sobre algum problema ou decisão a ser tomada.  Passada toda a agitação que cercava o cotidiano do navio diurnamente, os tripulantes se recolhiam à noite para buscar algum descanso no porão do navio. Nesse momento, marujos, soldados, cargas e animais se misturavam na insalubridade de um lugar nada confortável. Essa agonia só não era reservada aos que ocupavam altos cargos na embarcação. O capitão e os oficiais militares de alta patente costumavam se alojar em camarotes privados onde também poderiam levar os membros de sua família.  Uma alimentação farta e saudável era praticamente impossível nesses mesmos ambientes. Não tendo espaço para estocar comida e água suficientes, os tripulantes passavam por sérias privações. A ração diária fornecida aos tripulantes comuns não passava de três refeições compostas por biscoito, e duas pequenas doses de água e vinho. Somente os mais privilegiados tinham a possibilidade de usufruir de carnes, açúcar, cebolas, mel, farinha e das frutas que eram transportadas.  Em situações mais extremas, os tripulantes poderiam comer alimentos crus mediante a falta de um fogareiro que pudesse preparar a refeição. Quando a fome apertava de vez, a ingestão de alimentos podres, insetos (baratas e ratos) e cadáveres humanos também apareciam como uma última alternativa. A forte tensão causada pela constante falta de alimento poderia até mesmo colocar a vida do capitão em risco, que sempre estava armado para não ser vítima de algum motim ou rebelião.  As munições eram muito bem guardadas e nenhum tripulante vulgar poderia se utilizar de armas sem a expressa autorização. O uso de armas só acontecia deliberadamente quando algum navio pirata atacava a embarcação. Caso contrário, seguia-se a dura rotina dessa aventura inglória em que se corria atrás das desejadas riquezas de outras terras e povos.
A saída de Portugal era apenas o primeiro passo de uma desafiadora aventura.

Quando estudamos o desenvolvimento da expansão marítima, muitos leitores e curiosos se apegam à atrativa e empolgante ideia de que os homens que se envolviam em tal feito eram grandes heróis. Sem dúvida, a coragem de se lançar em águas desconhecidas não pode ser desconsiderada quando pensamos a respeito. Contudo, não podemos deixar de levar em conta que a vida nos navios era cercada por degradações e incômodos que retiram um pouco dessa impressão de grandiosidade.

Em Portugal, nação pioneira nesse processo, o rei era responsável direto pela escolha de um homem de confiança que pudesse organizar tão custosa viagem. Depois de saírem dos estaleiros, as embarcações eram colocadas à frente da Ribeira das Naus, em Lisboa, mesmo lugar onde, pela janela, o rei observava a movimentação dos navios a serem utilizados. Ao longo de cinco dias, estes ficavam estacionados para receberem as munições e víveres necessários para a viagem.

Feito o abastecimento, a embarcação saía navegando pelo rio Tejo para logo atingir as águas do “Mar Oceano”, termo que na época designava o Oceano Atlântico. Pouco antes da partida, em meio ao choro dos parentes que temiam nunca mais ver seus entes queridos, uma missa era realizada em favor da tripulação. Para indenizar os que assumiam tão arriscada aventura, o governo português oferecia uma recompensa financeira à sua família equivalente a um ano de trabalho.

Durante a viagem, um oficial ficava postado em uma cadeira alta fixada na proa ou na popa da embarcação. Dali ele teria que contrapor as informações de seus mapas com a cor da águas, que variava de acordo com a profundidade do oceano. Após uma análise, uma série de ordens era repassada ao timoneiro. Logo em seguida, no convés da embarcação, o mestre designava as tarefas a serem rapidamente executadas pela sua equipe de marinheiros.

Longe daquilo que se imagina, o capitão do navio era a pessoa que menos entendia das técnicas e expedientes que matinha o navio seguindo o seu roteiro de forma estável. Na maioria dos casos, ele era um nobre que representava a autoridade do rei na embarcação. Dessa forma, o capitão era quem exercia a função estritamente política de intermediar os conflitos entre os tripulantes e dar a palavra final sobre algum problema ou decisão a ser tomada.

Passada toda a agitação que cercava o cotidiano do navio diurnamente, os tripulantes se recolhiam à noite para buscar algum descanso no porão do navio. Nesse momento, marujos, soldados, cargas e animais se misturavam na insalubridade de um lugar nada confortável. Essa agonia só não era reservada aos que ocupavam altos cargos na embarcação. O capitão e os oficiais militares de alta patente costumavam se alojar em camarotes privados onde também poderiam levar os membros de sua família.

Uma alimentação farta e saudável era praticamente impossível nesses mesmos ambientes. Não tendo espaço para estocar comida e água suficientes, os tripulantes passavam por sérias privações. A ração diária fornecida aos tripulantes comuns não passava de três refeições compostas por biscoito, e duas pequenas doses de água e vinho. Somente os mais privilegiados tinham a possibilidade de usufruir de carnes, açúcar, cebolas, mel, farinha e das frutas que eram transportadas.

Em situações mais extremas, os tripulantes poderiam comer alimentos crus mediante a falta de um fogareiro que pudesse preparar a refeição. Quando a fome apertava de vez, a ingestão de alimentos podres, insetos (baratas e ratos) e cadáveres humanos também apareciam como uma última alternativa. A forte tensão causada pela constante falta de alimento poderia até mesmo colocar a vida do capitão em risco, que sempre estava armado para não ser vítima de algum motim ou rebelião.

As munições eram muito bem guardadas e nenhum tripulante vulgar poderia se utilizar de armas sem a expressa autorização. O uso de armas só acontecia deliberadamente quando algum navio pirata atacava a embarcação. Caso contrário, seguia-se a dura rotina dessa aventura inglória em que se corria atrás das desejadas riquezas de outras terras e povos.

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