quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A qualidade do transporte público no Brasil e os protestos


A qualidade do transporte público no Brasil e os protestos A disseminação da onda de protestos e manifestações que marcou o ano de 2013 no Brasil é representativa do descontentamento da sociedade – ou de parte dela – para com o transporte público. Mais do que simplesmente insatisfeita com o aumento do preço das passagens, a população também se queixa da qualidade dos serviços prestados em todo o país. O transporte público no Brasil estrutura-se, principalmente, pela utilização de ônibus, além de metrôs e trens, em algumas cidades ou regiões. De acordo com a Constituição Federal, o serviço deve ser administrado e mantido pelos municípios, mas os investimentos devem ser realizados também pelos estados e pelo Governo Federal. É importante ressaltar que, quando se refere ao transporte público, não estamos falando somente dos meios de transporte utilizados, mas de questões referentes à mobilidade urbana e à infraestrutura existente para esse transporte, como estações, terminais etc. Além do mais, é preciso que se compreenda que o transporte público não está isolado da lógica urbana, sobretudo das grandes metrópoles, que concentram a maior parte da população do país. Cidades maiores e com uma maior quantidade de zonas segregadas necessitam de um transporte público mais amplo e massificado para evitar a ocorrência de ônibus lotados e insuficientes para atender à população. De um modo geral, o transporte público no Brasil é considerado ruim e ineficiente, com passagens caras e ônibus frequentemente lotados, veículos em condições ruins, além do grande tempo de espera nos pontos de ônibus e metrô. Mas de onde surgiu esse problema? O Brasil teve o seu processo de industrialização ocorrendo de forma tardia e em uma velocidade bastante elevada, assim como aconteceu na ampla maioria dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Tal processo motivou o rápido e descontrolado crescimento das cidades através da expansão do êxodo rural (migração em massa da população do campo para as cidades), oriundo da mecanização e concentração de terras no meio agrário. Essa grande massa populacional encontrou no espaço das grandes cidades dificuldades para a sua permanência. Com o valor dos terrenos e imóveis aumentando consideravelmente e sobrevalorizando a todo o momento, as populações menos abastadas tiveram de buscar por moradia em zonas mais afastadas dos grandes centros, além de favelas, invasões e ocupações irregulares de todo o tipo, isso sem falar do contingente populacional em situação de rua. Para piorar, essas zonas segregadas não contaram com investimentos públicos em infraestrutura, o que gerou áreas muito dependentes das regiões urbanas mais valorizadas. Os serviços concentraram-se nos bairros mais nobres e, consequentemente, o emprego também. O trabalhador precisava se deslocar grandes distâncias em cidades cada vez mais “inchadas” para trabalhar ou utilizar serviços públicos e privados. Eis a origem dos problemas do transporte público no país. Essa necessidade de deslocamento não foi acompanhada de uma política de investimentos unificada em nível nacional que permitisse a sua estruturação. O que sempre se viu na história das cidades brasileiras foi uma grande massa de trabalhadores deslocando-se através de ônibus lotados em grandes distâncias. Com o anúncio de aumento das passagens no país em 2013, a insatisfação da população alavancou-se, culminando nos protestos daquilo que vem sendo chamado como “revolta do vinagre”, termo dado em função da proibição por parte da polícia do uso de vinagre em manifestações para conter os efeitos do gás lacrimogêneo utilizado pelo aparelho policial. Por isso, é preciso compreender que os problemas de transporte referem-se à lógica urbana e devem ser entendidos a partir desse contexto. Para tanto, mais do que melhorar o serviço prestado e diminuir o preço das passagens, é preciso democratizar os espaços das cidades, ampliando a mobilidade e descentralizando os investimentos em infraestrutura, que atualmente se encontram presentes majoritariamente nos espaços nobres e centrais das grandes metrópoles.
O aumento do preço das passagens foi o estopim para a revolta da população no 

Brasil 

A disseminação da onda de protestos e manifestações que marcou o ano de 2013 no Brasil é representativa do descontentamento da sociedade – ou de parte dela – para com o transporte público. Mais do que simplesmente insatisfeita com o aumento do preço das passagens, a população também se queixa da qualidade dos serviços prestados em todo o país.
O transporte público no Brasil estrutura-se, principalmente, pela utilização de ônibus, além de metrôs e trens, em algumas cidades ou regiões. De acordo com a Constituição Federal, o serviço deve ser administrado e mantido pelos municípios, mas os investimentos devem ser realizados também pelos estados e pelo Governo Federal.
É importante ressaltar que, quando se refere ao transporte público, não estamos falando somente dos meios de transporte utilizados, mas de questões referentes à mobilidade urbana e à infraestrutura existente para esse transporte, como estações, terminais etc.
Além do mais, é preciso que se compreenda que o transporte público não está isolado da lógica urbana, sobretudo das grandes metrópoles, que concentram a maior parte da população do país. Cidades maiores e com uma maior quantidade de zonas segregadas necessitam de um transporte público mais amplo e massificado para evitar a ocorrência de ônibus lotados e insuficientes para atender à população.
De um modo geral, o transporte público no Brasil é considerado ruim e ineficiente, com passagens caras e ônibus frequentemente lotados, veículos em condições ruins, além do grande tempo de espera nos pontos de ônibus e metrô. Mas de onde surgiu esse problema?
O Brasil teve o seu processo de industrialização ocorrendo de forma tardia e em uma velocidade bastante elevada, assim como aconteceu na ampla maioria dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Tal processo motivou o rápido e descontrolado crescimento das cidades através da expansão do êxodo rural (migração em massa da população do campo para as cidades), oriundo da mecanização e concentração de terras no meio agrário.
Essa grande massa populacional encontrou no espaço das grandes cidades dificuldades para a sua permanência. Com o valor dos terrenos e imóveis aumentando consideravelmente e sobrevalorizando a todo o momento, as populações menos abastadas tiveram de buscar por moradia em zonas mais afastadas dos grandes centros, além de favelas, invasões e ocupações irregulares de todo o tipo, isso sem falar do contingente populacional em situação de rua.
Para piorar, essas zonas segregadas não contaram com investimentos públicos em infraestrutura, o que gerou áreas muito dependentes das regiões urbanas mais valorizadas. Os serviços concentraram-se nos bairros mais nobres e, consequentemente, o emprego também. O trabalhador precisava se deslocar grandes distâncias em cidades cada vez mais “inchadas” para trabalhar ou utilizar serviços públicos e privados.
Eis a origem dos problemas do transporte público no país.
Essa necessidade de deslocamento não foi acompanhada de uma política de investimentos unificada em nível nacional que permitisse a sua estruturação. O que sempre se viu na história das cidades brasileiras foi uma grande massa de trabalhadores deslocando-se através de ônibus lotados em grandes distâncias.
Com o anúncio de aumento das passagens no país em 2013, a insatisfação da população alavancou-se, culminando nos protestos daquilo que vem sendo chamado como “revolta do vinagre”, termo dado em função da proibição por parte da polícia do uso de vinagre em manifestações para conter os efeitos do gás lacrimogêneo utilizado pelo aparelho policial.
Por isso, é preciso compreender que os problemas de transporte referem-se à lógica urbana e devem ser entendidos a partir desse contexto. Para tanto, mais do que melhorar o serviço prestado e diminuir o preço das passagens, é preciso democratizar os espaços das cidades, ampliando a mobilidade e descentralizando os investimentos em infraestrutura, que atualmente se encontram presentes majoritariamente nos espaços nobres e centrais das grandes metrópoles.

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