Apesar de a Geografia já ter sido praticada desde os tempos antigos, foi no século XIX que ela se consolidou enquanto ciência moderna, isto é, com o seu próprio objeto de estudo e o seu método científico bem definido. Alexander Von Humboldt (1779-1859) e Karl Ritter (1779-1859) foram responsáveis pela adoção e uso exclusivo da razão para explicar o espaço e suas características físicas e humanas, rompendo com os pensamentos até então marcados pela presença de mitos, crenças e superstições.
Apesar de ambos os autores integrarem, em seus trabalhos, elementos humanos e elementos naturais, observou-se uma distinção que ora se direcionava mais para aquilo que se convencionou chamar de geografia física (Humboldt), ora para aquilo que se convencionou chamar de geografia humana (Ritter).
Ambos também se diferenciaram no método de pesquisa, enquanto Humboldt trabalhava com viagens e observações descritivas, Ritter priorizava as revisões bibliográficas. Enquanto o primeiro era naturista e estudava geologia e botânica, o segundo atuava nos estudos de Filosofia e História.
Apesar de os dois autores serem de origens distintas e praticarem trabalhos diferentes, ambos se assemelhavam no pioneirismo de seus trabalhos em sistematizar o pensamento geográfico, aplicando e atribuindo os seus próprios métodos sobre o estudo das paisagens e territórios.
Alexander Von Humboldt
Humboldt, nascido na recém-unificada Alemanha e de família prussiana, era um grande desbravador e utilizava as suas riquezas para custear os seus deslocamentos pelo mundo, bem como as suas pesquisas sobre as diferentes paisagens. Esteve na Europa, África, Ásia e América Latina, incluindo o Brasil. Suas anotações renderam volumosos livros e enciclopédias, que contribuíram significativamente para o conhecimento do restante do mundo pelos europeus e o seu conhecimento racional. Seu legado consistiu em conhecimentos em climatologia, geomorfologia, biogeografia e muitos outros campos do conhecimento.
Alexander Von Humboldt, um dos mais importantes nomes do pensamento geográfico
O pensamento de Humboldt foi profundamente influenciado pelo racionalismo francês e pelo idealismo filosófico alemão, sendo um profundo adepto dos ideais positivistas que se encontravam em voga durante a sua época. Tais influências tornaram-no um cientista adepto ao empirismo, pensamento filosófico caracterizado por considerar apenas as experiências e propenso a elaborar teorias universais, cujo objetivo era formular princípios que pudessem se encaixar sobre toda e qualquer realidade.
Em virtude de sua formação e de suas experiências, associava o ser humano e a vida em sociedade às características físicas, biológicas e naturais para explicar a dinamicidade e as relações espaço-temporais. Tal pensamento foi precursor dos ideais de Friedrich Ratzel, um dos formuladores do determinismo geográfico.
Karl Ritter
Karl Ritter, ao contrário de Humboldt, não realizou grandes viagens exploradoras, sendo um grande leitor dos conhecimentos científicos de sua época. Procurou manter uma perspectiva que integrasse as sociedades e os meios naturais, entretanto, preocupou-se em descrever mais detalhadamente o meio social humano. Bastante influenciado pelo idealismo de Shelling, buscou alcançar a totalidade do conhecimento sobre a terra a partir das somas das partes.
Karl Ritter, considerado o criador da Geografia Humana e dos estudos sobre o espaço geográfico social
Encontrou, no entanto, muitas dificuldades em aplicar essa concepção sobre as manifestações e comportamentos sociais do homem, uma vez que as atividades humanas não obedecem a um padrão determinado, ao contrário do que ocorre com alguns fenômenos naturais. Por isso, opôs-se a Humboldt e assinalou que a humanidade também exerce sua influência sobre a natureza, através, principalmente, do uso das tecnologias.
Suas ideias de estabelecer leis gerais a partir de induções realizadas com base em estudos locais influenciaram marcadamente a Geografia de origem francesa, da qual Vidal de La Blache foi o seu principal representante.
Apesar das críticas comumente realizadas sobre esses autores, é importante salientar que as obras de Humboldt e Ritter devem ser analisadas levando-se em consideração o contexto em que foram escritas, quando a ciência geográfica não havia se consolidado e que o conhecimento científico passava por outro período.
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