As tensões na Crimeia envolvem as transformações políticas na Ucrânia e os interesses de União Europeia, Estados Unidos e Rússia.
Localização da província da Crimeia na Ucrânia
As tensões na Crimeia – província semiautônoma da Ucrânia, localizada em uma península no sul do país – revelam as relações existentes entre os ucranianos e os russos desde a extinção da União Soviética. A população dessa região, em sua ampla maioria, utiliza o idioma russo e mantém-se mais vinculada a Moscou do que propriamente a Kiev. Assim, com as recentes transformações que marcaram a política do país, a província em questão passou a tornar-se palco de extrema instabilidade política.
Os problemas internos da Ucrânia encontraram o seu ápice quando o então presidente Viktor Yanukovich refugou de um acordo que se comprometera a realizar com a União Europeia, o que ampliaria as relações do país com o bloco vizinho. Essa decisão foi diretamente influenciada pela Rússia, que não via com bons olhos esse acordo, uma vez que a Ucrânia é um dos seus principais parceiros comerciais no continente europeu.
Nesse momento, os grupos opositores ao governo constituídos majoritariamente pela população que utiliza o idioma ucraniano e que habita a porção central e oeste do país iniciaram uma onda de protestos pelas ruas das principais cidades. Os líderes desse movimento são políticos ligados ao governo anterior a Yanukovich e a partidos e movimentos de direita e de extrema-direita, com destaque para o Udar (soco), o Svoboda (liberdade) e o Setor Direito.
Diante disso, alguns meses sucederam-se com o agravamento das tensões, em que prédios públicos foram ocupados, as ruas incendiadas e a repressão aos manifestantes intensificada. Em janeiro de 2014, o então primeiro-ministro Mykola Azarov renunciou ao cargo e, no mês seguinte, o presidente Yanukovich fugiu para a Rússia após a ocupação da sede do governo pelos grupos opositores.
As regiões leste e sul, as mais industrializadas e povoadas do país, possuíam uma grande quantidade de habitantes russos, que obviamente se opuseram aos manifestantes pró-Europa. Nessas regiões, foi a província da Crimeia que conheceu, então, os níveis maiores de tensão e instabilidade política, principalmente com a atitude do novo governo de revogar uma lei que garantia o russo como idioma oficial local.
Com isso, grupos militares pró-Rússia assumiram o controle político da província e estabeleceram ali uma zona de resistência ao novo governo ucraniano, nomeando Sergei Axionov como primeiro-ministro do parlamento local. Sob esse panorama, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, teve aprovado no parlamento de seu país o pedido de envio de tropas para Ucrânia. Com isso, os países da União Europeia, além dos Estados Unidos, anunciaram o descontentamento com a decisão, iniciando uma política de articulação de um provável bloqueio econômico e/ou comercial à Rússia.
No entanto, sob a argumentação de que era necessário defender os direitos humanos da população russa na Crimeia, foram enviadas tropas que rapidamente ocuparam aeroportos e bases militares na província, com alguns poucos focos de resistência. Os militares ucranianos da região, em sua ampla maioria, aliaram-se a Moscou ou abandonaram a Crimeia. Em resposta, os estadunidenses e os europeus prometeram agir no sentido de punir a Rússia pela ação realizada, considerada ilegítima pelos governos ocidentais.
Manifestantes vão às ruas, na cidade de Kahrkov, em oposição à ocupação russa na Crimeia
Manifestantes favoráveis à intervenção da Rússia na cidade de Lugansk
De toda forma, é preciso também salientar que o que motivou a ação militar da Rússia foi o interesse na região da Crimeia, que foi anexada pela Ucrânia em 1954, quando o então líder soviético Nikita Khrushchev – de origem ucraniana – cedeu-a em caráter amistoso. Essa península possui uma importância econômica e outra estratégica, configurando-se como uma importante via de ligação entre o Mar Negro e o Mar de Arzov, servindo também de entreposto comercial para a Europa, além de ser uma grande produtora de grãos e alimentos industrializados. Por outro lado, a Europa e os Estados Unidos objetivam diminuir a influência russa na zona formada pelas ex-repúblicas da antiga União Europeia.
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