domingo, 23 de junho de 2013

Jovem troca periferia de SP por Harvard: ‘olimpíada mudou meu destino’

Tábata Amaral de Pontes, 19 anos

Aluna de uma escola pública de São Paulo, Tábata descobriu a olimpíada de matemática na 5ª série. Hoje ela estuda na melhor universidade dos Estados Unidos

Filha de um cobrador de ônibus e de uma vendedora de flores, Tábata Amaral de Pontes estudava em uma escola pública do bairro de Campo Grande, na zona sul de São Paulo, quando surgiu a oportunidade de participar da Olimpíada Brasileira das Escolas Públicas (OBMEP). Ela estava na 5ª série e até gostava de estudar, mas não sentia nenhuma "paixão" pelos números.

A história dessa menina começou a mudar naquele ano. Tábata recebeu medalha de prata na olímpiada, depois de disputar com estudantes de todo o País. Um ano depois, participou de novo da prova e conquistou o primeiro ouro. As oportunidades também começaram a surgir. O colégio Etapa, tradicional escola particular da cidade, viu na jovem um talento promissor e decidiu apostar: ofereceu uma bolsa de estudos para cursar a sétima série e uma preparação especial para as olimpíadas científicas.

"O meu destino mudou com a olimpíada. Nessa época para mim era impossível sonhar em estudar na USP, eu achava que nunca ia poder fazer uma faculdade numa boa universidade", conta Tábata, que aos 19 anos está no segundo semestre de estudos na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Ela ainda foi aprovada em outras cinco instituições americanas, além da USP: Caltech, Columbia, Princeton, Yale, e Pennsylvania.

No ensino médio, o Etapa passou a pagar as diárias de um hotel, localizado a três minutos da escola, para que Tábata não precisasse se deslocar da zona sul para a Vila Mariana. "Eu ficava na escola até de noite tendo aulas para as olimpíadas e era ruim voltar para casa tão tarde. Para que eu não desistisse, eles resolveram me pagar o hotel", afirma a estudante, que intercalava o estudo das disciplinas normais do colégio com uma maratona de aulas de preparação para as disputas. O resultado veio logo: foram mais de 40 medalhas em competições no Brasil e no exterior. E não foi só na matemática. Tábata é campeã em olimpíadas de física, química, astronomia, robótica, linguística e informática. Ela viajou para cinco países por causa das provas e conta que descobriu um novo mundo. "Quando eu estava no Isaltino (de Mello, escola estadual de São Paulo) eu até estudava, mas não achava tão divertido e interessante. Com as olimpíadas eu vi que o mundo era bem maior que eu imaginava. Não pensava nem na USP, hoje estou em Harvard. Ganhei bolsa para estudar numa boa escola, para fazer de inglês, viajei por vários países, minha vida mudou", comemora.


"Com as olimpíadas eu vi que o mundo era bem maior que eu imaginava. Não pensava nem na USP, hoje estou em Harvard"

Ela conseguiu a vaga em Harvard após passar por uma rigorosa seleção, que incluiu provas, avaliação do nível de inglês e do currículo - a participação em olimpíadas conta pontos na seleção. Tábata recebeu a confirmação da aprovação poucos dias antes da morte do pai e afirma que uma das maiores alegrias foi poder dar a notícia a ele. "Meu pai sempre foi a pessoa que mais me apoiou e confiou em mim. Quando eu disse que tinha passado em Harvard, ele disse que já sabia e que não era nenhuma novidade". Além da oportunidade de estudar na melhor universidade do mundo, ela ainda ganhou uma bolsa integral da instituição para custear todas as despesas com alimentação e moradia nos Estados Unidos.

A ideia da menina, que ainda guarda todas as medalhas conquistadas na casa da família na zona sul de São Paulo, é poder ajudar outros jovens a descobrir esse "mundo novo". Ela pretende se formar em astronomia e ciências políticas e voltar para o Brasil para desenvolver um projeto educacional. Tábata ainda não sabe como vai colocar isso em prática, mas está decidida a mudar realidades. "Eu não tenho nada de especial em relação aos outros jovens que estudaram em escola pública, não sou nenhum gênio. A única diferença é que eu tive oportunidade. O que eu quero é levar essas oportunidades para outras pessoas", completa. Enquanto não volta para o Brasil e realiza seu maior sonho, a jovem se divide entre a pesada rotina de estudos nos Estados Unidos e as conversas, por Skype, com a mãe Reni e o irmão Allan.


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