Classe média chinesa: um grupo vivendo as contradições de um país rico e autoritário.
Recuando cinqüenta anos na história chinesa, os estudiosos e críticos nunca acreditariam que hoje poderíamos estar aqui discutindo a ascensão de uma classe média na China. Isso tudo porque os projetos da revolução comunista de 1949 pretendiam estabelecer uma sociedade planificada ao moldes do pensamento marxista. No entanto, a China empreendeu um conjunto de mudanças que instalou uma situação um tanto contraditória naquela sociedade.
O processo de abertura econômica da China trouxe as benesses e riquezas somente vislumbradas pela adoção da cartilha econômica capitalista. No entanto, a relação entre o Estado e os indivíduos, preservou alguns aspectos essenciais da sociedade planificada projetada pelos líderes comunistas das revoluções socialista e cultural. Os reflexos desta situação na cultura e na sociedade chinesa são principalmente sentidos na ascendente faixa sócio-econômica intermediária chinesa.
Sendo, em sua grande maioria, filhos e remanescentes de uma China ainda controladora e autoritária, a classe média desse país hoje vive a liberdade de escolha dos regimes políticos liberais. O sucesso profissional caminha ao lado dos sonhos de consumo de um grupo social que hoje pode preferir uma determinada marca de tênis, idolatrar certos tipos de carro ou planejar a aquisição de uma casa mais confortável e espaçosa. A inserção desses simples atos de escolha imprime um forte senso de liberdade entre esses indivíduos.
No entanto, a possibilidade de crítica e escolha perceptíveis na esfera privada entra em contra-senso com a estrutura política do país. Os chineses de classe média sabem muito bem sobre a situação política de seu país e, muitas vezes, admitem a urgência de determinadas reformas. Ainda assim, não se mobilizam em torno de uma causa reformista por acreditar que a oposição ao governo causaria a perda da prosperidade material alcançada ou na instalação de medidas ainda mais intervencionistas.
Ao que parece, cabe às novas gerações ensaiarem algum tipo de situação reivindicatória mais expressiva. As escolas e o novo conjunto de valores aprendidos pelos jovens chineses aprofundam ainda mais esse senso individualista que vem se instalando no interior da sociedade chinesa. Seria esse um indício do fim do regime comunista que rege o país? Seria difícil tecer uma resposta afirmativa para tal mudança. Resta a nossa espera para avaliar os próximos acontecimentos da mais nova potência surgida nos últimos anos.
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