sábado, 8 de junho de 2013

Anacronismo


 Anacronismo, um erro inevitável?  O anacronismo ou anticronismo consiste basicamente em utilizar os conceitos e idéias de uma época para analisar os fatos de outro tempo. Em outras palavras, o anacronismo é uma forma equivocada onde tentamos avaliar um determinado tempo histórico à luz de valores que não pertencem a esse mesmo tempo histórico. Por mais que isso pareça um erro banal ou facilmente perceptível, devemos estar atentos sobre como o anacronismo interfere no nosso estudo da História.   Por um lado, os historiadores, no desafio diário de suas pesquisas, tentam sempre escapar do problema do anacronismo. Esse seria um “erro mortal” a ser evitado em toda e qualquer pesquisa séria e bem executada. Ao contrário do que possa parecer, esse problema não só atinge os profissionais da História, mas também é encontrado no dia a dia das salas de aula. De forma geral, muitos alunos costumam tecer comentários sobre o passado com base nos seus próprios valores.   É comum vermos os alunos reclamarem sobre como os portugueses conseguiam, mesmo sendo minoria, dominarem a imensa população de escravos do Brasil. Outros se questionam sobre como a Igreja tinha tanto poder durante a Idade Média. Ao estudarem a democracia em Atenas, não acreditam como os atenienses reconheciam como democrático um regime que excluía as mulheres e estrangeiros das questões políticas.   Ao fazerem esse tipo de crítica não percebem que os conceitos de igualdade, razão e democracia por eles utilizados foram concebidos tempos depois das experiências aqui exemplificadas. Desse modo, desconsideram as idéias e conceitos que deveras poderiam justificar os hábitos no Brasil Colônia, na Idade Média ou na Antiguidade Clássica. Ao mesmo tempo, não levam em conta que o homem interpreta o passado e dessa maneira acaba criando uma nova compreensão do mesmo.   Um dos mais amplos exemplos desse tipo de prática é percebido no século XVIII, no auge do pensamento iluminista. Elegendo a razão como a melhor das ferramentas do intelecto humano, os iluministas consideravam a religiosidade como um grande entrave ao conhecimento e o saber. Dessa maneira, interpretava-se a Idade Média como a “idade das trevas”, onde a crença e a religiosidade obscureciam a visão do homem.   No entanto, ao desmerecerem o passado medieval, os iluministas ignoravam toda a contribuição dos filósofos medievais e o fato de que as primeiras universidades da Europa surgem nessa mesma ”idade das trevas”. Nessa perspectiva, podemos considerar também que o iluminismo, na ânsia de seu racionalismo, deixava de olhar de forma mais compreensiva para as características próprias da Idade Medieval.   Detectando essa falha interpretativa poderíamos concluir que o anacronismo deve ser complemente banido da História. No entanto, seria impossível então olhar o passado com os valores do nosso presente? Provavelmente não. Se por um lado não podemos cometer o erro do anacronismo, também nunca conseguiríamos saber literalmente como pensavam os indivíduos de uma determinada época. Dessa forma, como evitar o anacronismo?   O anacronismo não pode ser considerado um “fantasma” que persegue estudantes e historiadores. Antes disso, devemos colocar os valores do nosso tempo como um ponto de referência pelo qual poderíamos entender melhor o passado. Comparando as diferenças entre os conceitos de dois tempos históricos diferentes, podemos estabelecer o diálogo das nossas expectativas para com o passado sem desconsiderar os valores do mesmo. Assim, o anacronismo deixa de ser uma armadilha e transforma-se em uma importante ferramenta para a compreensão histórica.
Anacronismo, um erro inevitável?
O anacronismo ou anticronismo consiste basicamente em utilizar os conceitos e idéias de uma época para analisar os fatos de outro tempo. Em outras palavras, o anacronismo é uma forma equivocada onde tentamos avaliar um determinado tempo histórico à luz de valores que não pertencem a esse mesmo tempo histórico. Por mais que isso pareça um erro banal ou facilmente perceptível, devemos estar atentos sobre como o anacronismo interfere no nosso estudo da História.

Por um lado, os historiadores, no desafio diário de suas pesquisas, tentam sempre escapar do problema do anacronismo. Esse seria um “erro mortal” a ser evitado em toda e qualquer pesquisa séria e bem executada. Ao contrário do que possa parecer, esse problema não só atinge os profissionais da História, mas também é encontrado no dia a dia das salas de aula. De forma geral, muitos alunos costumam tecer comentários sobre o passado com base nos seus próprios valores.

É comum vermos os alunos reclamarem sobre como os portugueses conseguiam, mesmo sendo minoria, dominarem a imensa população de escravos do Brasil. Outros se questionam sobre como a Igreja tinha tanto poder durante a Idade Média. Ao estudarem a democracia em Atenas, não acreditam como os atenienses reconheciam como democrático um regime que excluía as mulheres e estrangeiros das questões políticas.

Ao fazerem esse tipo de crítica não percebem que os conceitos de igualdade, razão e democracia por eles utilizados foram concebidos tempos depois das experiências aqui exemplificadas. Desse modo, desconsideram as idéias e conceitos que deveras poderiam justificar os hábitos no Brasil Colônia, na Idade Média ou na Antiguidade Clássica. Ao mesmo tempo, não levam em conta que o homem interpreta o passado e dessa maneira acaba criando uma nova compreensão do mesmo.

Um dos mais amplos exemplos desse tipo de prática é percebido no século XVIII, no auge do pensamento iluminista. Elegendo a razão como a melhor das ferramentas do intelecto humano, os iluministas consideravam a religiosidade como um grande entrave ao conhecimento e o saber. Dessa maneira, interpretava-se a Idade Média como a “idade das trevas”, onde a crença e a religiosidade obscureciam a visão do homem.

No entanto, ao desmerecerem o passado medieval, os iluministas ignoravam toda a contribuição dos filósofos medievais e o fato de que as primeiras universidades da Europa surgem nessa mesma ”idade das trevas”. Nessa perspectiva, podemos considerar também que o iluminismo, na ânsia de seu racionalismo, deixava de olhar de forma mais compreensiva para as características próprias da Idade Medieval.

Detectando essa falha interpretativa poderíamos concluir que o anacronismo deve ser complemente banido da História. No entanto, seria impossível então olhar o passado com os valores do nosso presente? Provavelmente não. Se por um lado não podemos cometer o erro do anacronismo, também nunca conseguiríamos saber literalmente como pensavam os indivíduos de uma determinada época. Dessa forma, como evitar o anacronismo?

O anacronismo não pode ser considerado um “fantasma” que persegue estudantes e historiadores. Antes disso, devemos colocar os valores do nosso tempo como um ponto de referência pelo qual poderíamos entender melhor o passado. Comparando as diferenças entre os conceitos de dois tempos históricos diferentes, podemos estabelecer o diálogo das nossas expectativas para com o passado sem desconsiderar os valores do mesmo. Assim, o anacronismo deixa de ser uma armadilha e transforma-se em uma importante ferramenta para a compreensão histórica.

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