sábado, 8 de junho de 2013

O Legado Romano para o Ocidente


                           De forma consensual encontramos na historiografia atual toda uma cadeia de processos que construíram as bases da idade média e como a decadência do império romano do ocidente contribuiu para essa construção. Tentaremos neste texto explicar, baseado em uma análise interpretativa da obra: Origens da Idade Média de William Carroil Bark, entender como a fase final de Roma influenciou todo o período medieval que o seguiu.  Constituímos, em geral, uma idéia de surgimento da idade média, como sendo a decadência da civilização, representada na figura do império romano e com isso o surgimento de um tempo marcado pela “retração civilizatória” do mundo em meados do século V.  Entretanto o que devemos nos perguntar é em que situação o império se encontrava? Quais as causas que o levaram a uma situação de decadência em que ele estava submetido entre o final do século II e o inicio do século IV? E por final o que as medidas tomadas no campo social, político, econômico, pelos imperadores influenciaram no futuro de Roma?  Ao tentar responder estes questionamentos é que iremos desenvolver uma analise querente e nós perguntarmos mais uma vez, se a Idade Média não foi a melhor saída para o caos que se instalara na Europa, pois “a regressão da civilização do ocidente, partindo do nível romano foi uma ocorrência feliz” .  Grande parte do mundo durante o final do século II se encontrava dominado pelo império romano, que nesta época possuía a sua maior extensão, entretanto a situação política em que se encontrava não era de grande estabilidade.  A morte de Marcus Aurelius Commodus Antoninus, mais vulgarmente chamado, apenas, de Cómodo marca o fim da idade dos antoninos, dando inicio a um período de incertezas e grande crise em todo o império. Após a breve dinastia dos severos em que houve um substancial aumento nos conflitos com os bárbaros e problemas com a sucessão dos imperadores, viu-se o império entrar pelo século III em varias guerras civis, travadas entre os pretendentes ao trono romano, que em sua maioria eram generais dos exércitos, constituindo assim uma série de governantes de uma anarquia militar. Com essa crise instalada, podemos dizer que “ela destruiu as bases da vida econômica, social e intelectual do mundo antigo”.  Em 285 d.C. surge a figura de Diocleciano considerado um dos grandes reformadores do império romano juntamente com Constantino, que se tornou imperador tempos depois.  A política exercida por esses reformadores, ao mesmo tempo em que permitiu um maior controle do estado, sobre ele mesmo e sobre seus invasores, o dividindo em regiões administrativas, formando uma tetrarquia e separando o oriente do ocidente. Também instituiu uma forma de governo baseado na opressão de todos que viviam em seu território. Criando leis que posteriormente constituiriam os alicerceis para o surgimento da Idade Média.  “A unidade política e a centralização que nos séculos posteriores, medievais, eram inteiramente impossíveis, já começavam a desaparecer das partes do império localizadas na Europa ocidental em fins do séc.III, e o caminho estava preparado para os reinos medievais e o lento processo de adaptação, chamado feudalismo”.  Outro fator importante que se deu na política dessa época foi à adoção do cristianismo por Constantino que não podia mais negar a força que a religião cristã se tomou dentro do império, fazendo assim com que o os motivos para manter a unidade romana mudasse de foco. “Permitindo substituir a unidade política romana pela unidade religiosa cristã” .  As mudanças políticas introduzidas em todo esse período não podem ser pensadas se não em conjunto com as mudanças sócias e econômicas que as mesmas causaram.  Com a separação do império em ocidental e oriental verificamos que houve o estabelecimento de uma crescente desigualdade entre as duas partes. Já verificada que as maiores cidades estavam no lado oriental e a grande concentração do ouro de todo império também fazia parte do oriente. Por outro lado o ocidente estava sofrendo cada vez mais com os bárbaros e com as modificações políticas impostas desde Diocleciano. “As destruições provocadas pelas guerras civis e invasões do séc. III de nossa era parecem ter sido particularmente severas na Gália, sem dúvidas porque esta era uma das mais ricas e economicamente mais produtivas partes do ocidente e, portanto a mais vulnerável” .  Com o lado ocidental bastante afetado economicamente podemos notar que a economia natural passou a ter um caráter cada vez mais efetivo na vida do cidadão romano, tirando de forma intensa, mais não total, o foco da economia baseada no ouro. Não que o império nunca tivesse experimentado esse tipo de economia, podemos ate dizer que a construção econômica do império oscilava entre os dois tipos, mais não tanto quanto agora.  O oriente estava mais bem adaptado à nova realidade imposta pelas reformas e de certa forma mantendo-se em pé. Porém vale salientar que “é sabido que Constantinopla escapou a captura varias vezes, em parte pelo suborno dos prováveis atacantes com ouro, ao passo que o ocidente tinha que vencer tais dificuldades sem essa vantagem... O Oriente podia comprar a proteção com o dinheiro, o Ocidente, mais pobre não podia, e por isso sofreu o que o primeiro evitou” .  Um dos fatos, mas marcantes nas reformas estabelecidas pelo império, foi à dura imposição na criação de impostos e as medidas atreladas ao aparelho estatal para garantir seu recebimento. Com as crescentes invasões bárbaras e um aumento na cobrança dos impostos o povo estava saindo do império, para conter este êxodo, foram estabelecidos artifícios legais que fixavam o homem a terra e as cidades, transformando as atividades tanto urbanas quanto rurais em funções hereditária, criando assim um sistema de castas. Com essa violenta supressão da liberdade individual, o homem livre da época se transformou em servo do Estado. Surgia a servidão. Os ideais greco-romanos de uma comunidade de cidadãos livres desapareceram.  Voltando ao campo economico e a questão do cerscente desenvolvimento da economia natural, observamos que ela se baseia na auto-suficiencia, no comercio de trocas e agora , para infelicidade do estado, no pagamento de impostos.  “Assim, apesar das reformas de Diocleciano e Constantino, o movimento de repulsão a economia monetária não podia ser detido e o imposto sobre a terra era frequentemente pago in natura” .  Diante desta crescente opressão, onde os colonos não tinham mais capacidade de produzir nada além do que lhes era suficiente para pagar os impostos, observamos, mais uma vez, que a estrutura que se montava era em direção de uma total derrocada do lado ocidental. Isso fica evidente nas palavras de William Carroil Bark, quando ele diz que: “o estado era incapaz de ajudar o fazendeiro independente pelas quais, ele, como o colonus, tinha poucas soluções a sua frente... Para homens que tinham família, até mesmo a fuga para o banditismo estava fora de cogitação.  De qualquer forma, o que ocorreu é evidente: um número cada vez maior de agricultores em dificuldades aceitava a proteção de potentados feudalistas capazes de desafiar o estado, e com isso praticamente se vendiam a servidão” .  Evidenciamos mais uma vez um grande indicativo na direção de uma grande mudança social, que notadamente esta relacionada à extinção de uma classe média, o desaparecimento das pequenas propriedades, compradas pelos grandes latifundiários e o grande aumento do poder da aristocracia agrária.  Diante de tantas causas e conseqüência, encontradas para dar sustentação ao surgimento das características que compunham o momento de transição entre o fim do império romano e o início da idade média, podemos agora tentar refutar a afirmação feita no inicio do texto, em que dizemos que a única saída para Roma é a Idade Medieval.  Isso fica claro quando analiticamente verificamos que não foi o feudalismo que construiu uma sociedade relativamente pobre, esfacelada, sem unidade e de base agrárias, mais sim podemos indicar como criador dessa realidade o império romano, que dentro do seu espirilo belicista e conquistador não teve o cuidado e destreza necessária com seu povo e os povos conquistados, os tratando de forma violenta e opressora, fazendo com que as estruturas sócias, políticas e econômicas se fundissem na realidade medieval.  Entretanto o que fica claro é que todas essas mudanças causaram, segundo as palavras de Rostovtzeff, “uma lenta e gradual modificação, uma transferência de valores na consciência dos homens” fazendo com a mudança se tornasse estrutural e não parte de uma mera conjuntura.  Vemos ai como a liderança romana no ocidente foi se deteriorando ao mesmo tempo em que produziu seu legado para o futuro.

De forma consensual encontramos na historiografia atual toda uma cadeia de processos que construíram as bases da idade média e como a decadência do império romano do ocidente contribuiu para essa construção. Tentaremos neste texto explicar, baseado em uma análise interpretativa da obra: Origens da Idade Média de William Carroil Bark, entender como a fase final de Roma influenciou todo o período medieval que o seguiu.
Constituímos, em geral, uma idéia de surgimento da idade média, como sendo a decadência da civilização, representada na figura do império romano e com isso o surgimento de um tempo marcado pela “retração civilizatória” do mundo em meados do século V.
Entretanto o que devemos nos perguntar é em que situação o império se encontrava? Quais as causas que o levaram a uma situação de decadência em que ele estava submetido entre o final do século II e o inicio do século IV? E por final o que as medidas tomadas no campo social, político, econômico, pelos imperadores influenciaram no futuro de Roma?
Ao tentar responder estes questionamentos é que iremos desenvolver uma analise querente e nós perguntarmos mais uma vez, se a Idade Média não foi a melhor saída para o caos que se instalara na Europa, pois “a regressão da civilização do ocidente, partindo do nível romano foi uma ocorrência feliz” .
Grande parte do mundo durante o final do século II se encontrava dominado pelo império romano, que nesta época possuía a sua maior extensão, entretanto a situação política em que se encontrava não era de grande estabilidade.
A morte de Marcus Aurelius Commodus Antoninus, mais vulgarmente chamado, apenas, de Cómodo marca o fim da idade dos antoninos, dando inicio a um período de incertezas e grande crise em todo o império. Após a breve dinastia dos severos em que houve um substancial aumento nos conflitos com os bárbaros e problemas com a sucessão dos imperadores, viu-se o império entrar pelo século III em varias guerras civis, travadas entre os pretendentes ao trono romano, que em sua maioria eram generais dos exércitos, constituindo assim uma série de governantes de uma anarquia militar. Com essa crise instalada, podemos dizer que “ela destruiu as bases da vida econômica, social e intelectual do mundo antigo”.
Em 285 d.C. surge a figura de Diocleciano considerado um dos grandes reformadores do império romano juntamente com Constantino, que se tornou imperador tempos depois.
A política exercida por esses reformadores, ao mesmo tempo em que permitiu um maior controle do estado, sobre ele mesmo e sobre seus invasores, o dividindo em regiões administrativas, formando uma tetrarquia e separando o oriente do ocidente. Também instituiu uma forma de governo baseado na opressão de todos que viviam em seu território. Criando leis que posteriormente constituiriam os alicerceis para o surgimento da Idade Média.
“A unidade política e a centralização que nos séculos posteriores, medievais, eram inteiramente impossíveis, já começavam a desaparecer das partes do império localizadas na Europa ocidental em fins do séc.III, e o caminho estava preparado para os reinos medievais e o lento processo de adaptação, chamado feudalismo”.
Outro fator importante que se deu na política dessa época foi à adoção do cristianismo por Constantino que não podia mais negar a força que a religião cristã se tomou dentro do império, fazendo assim com que o os motivos para manter a unidade romana mudasse de foco. “Permitindo substituir a unidade política romana pela unidade religiosa cristã” .
As mudanças políticas introduzidas em todo esse período não podem ser pensadas se não em conjunto com as mudanças sócias e econômicas que as mesmas causaram.
Com a separação do império em ocidental e oriental verificamos que houve o estabelecimento de uma crescente desigualdade entre as duas partes. Já verificada que as maiores cidades estavam no lado oriental e a grande concentração do ouro de todo império também fazia parte do oriente. Por outro lado o ocidente estava sofrendo cada vez mais com os bárbaros e com as modificações políticas impostas desde Diocleciano. “As destruições provocadas pelas guerras civis e invasões do séc. III de nossa era parecem ter sido particularmente severas na Gália, sem dúvidas porque esta era uma das mais ricas e economicamente mais produtivas partes do ocidente e, portanto a mais vulnerável” .
Com o lado ocidental bastante afetado economicamente podemos notar que a economia natural passou a ter um caráter cada vez mais efetivo na vida do cidadão romano, tirando de forma intensa, mais não total, o foco da economia baseada no ouro. Não que o império nunca tivesse experimentado esse tipo de economia, podemos ate dizer que a construção econômica do império oscilava entre os dois tipos, mais não tanto quanto agora.
O oriente estava mais bem adaptado à nova realidade imposta pelas reformas e de certa forma mantendo-se em pé. Porém vale salientar que “é sabido que Constantinopla escapou a captura varias vezes, em parte pelo suborno dos prováveis atacantes com ouro, ao passo que o ocidente tinha que vencer tais dificuldades sem essa vantagem... O Oriente podia comprar a proteção com o dinheiro, o Ocidente, mais pobre não podia, e por isso sofreu o que o primeiro evitou” .
Um dos fatos, mas marcantes nas reformas estabelecidas pelo império, foi à dura imposição na criação de impostos e as medidas atreladas ao aparelho estatal para garantir seu recebimento. Com as crescentes invasões bárbaras e um aumento na cobrança dos impostos o povo estava saindo do império, para conter este êxodo, foram estabelecidos artifícios legais que fixavam o homem a terra e as cidades, transformando as atividades tanto urbanas quanto rurais em funções hereditária, criando assim um sistema de castas. Com essa violenta supressão da liberdade individual, o homem livre da época se transformou em servo do Estado. Surgia a servidão. Os ideais greco-romanos de uma comunidade de cidadãos livres desapareceram.
Voltando ao campo economico e a questão do cerscente desenvolvimento da economia natural, observamos que ela se baseia na auto-suficiencia, no comercio de trocas e agora , para infelicidade do estado, no pagamento de impostos.
“Assim, apesar das reformas de Diocleciano e Constantino, o movimento de repulsão a economia monetária não podia ser detido e o imposto sobre a terra era frequentemente pago in natura” .
Diante desta crescente opressão, onde os colonos não tinham mais capacidade de produzir nada além do que lhes era suficiente para pagar os impostos, observamos, mais uma vez, que a estrutura que se montava era em direção de uma total derrocada do lado ocidental. Isso fica evidente nas palavras de William Carroil Bark, quando ele diz que: “o estado era incapaz de ajudar o fazendeiro independente pelas quais, ele, como o colonus, tinha poucas soluções a sua frente... Para homens que tinham família, até mesmo a fuga para o banditismo estava fora de cogitação.
De qualquer forma, o que ocorreu é evidente: um número cada vez maior de agricultores em dificuldades aceitava a proteção de potentados feudalistas capazes de desafiar o estado, e com isso praticamente se vendiam a servidão” .
Evidenciamos mais uma vez um grande indicativo na direção de uma grande mudança social, que notadamente esta relacionada à extinção de uma classe média, o desaparecimento das pequenas propriedades, compradas pelos grandes latifundiários e o grande aumento do poder da aristocracia agrária.
Diante de tantas causas e conseqüência, encontradas para dar sustentação ao surgimento das características que compunham o momento de transição entre o fim do império romano e o início da idade média, podemos agora tentar refutar a afirmação feita no inicio do texto, em que dizemos que a única saída para Roma é a Idade Medieval.
Isso fica claro quando analiticamente verificamos que não foi o feudalismo que construiu uma sociedade relativamente pobre, esfacelada, sem unidade e de base agrárias, mais sim podemos indicar como criador dessa realidade o império romano, que dentro do seu espirilo belicista e conquistador não teve o cuidado e destreza necessária com seu povo e os povos conquistados, os tratando de forma violenta e opressora, fazendo com que as estruturas sócias, políticas e econômicas se fundissem na realidade medieval.
Entretanto o que fica claro é que todas essas mudanças causaram, segundo as palavras de Rostovtzeff, “uma lenta e gradual modificação, uma transferência de valores na consciência dos homens” fazendo com a mudança se tornasse estrutural e não parte de uma mera conjuntura.
Vemos ai como a liderança romana no ocidente foi se deteriorando ao mesmo tempo em que produziu seu legado para o futuro.

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